Famílias mudam hábitos para manter alimentação básica

27/09/2021


Moradora de Diadema (ABC), a dona de casa Lucia Mesquita, 45 anos, comprava carne bovina três vezes por semana e agora faz isso no máximo duas vezes por mês - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Nos últimos meses, as famílias vivem um dilema para poder fechar o orçamento mensal. A inflação dos alimentos e os constantes aumentos da conta de luz e do botijão de gás são muitas vezes somados a uma renda menor. Consequentemente, há compra de menos produtos, deixando de lado, principalmente, a carne bovina.

A dona de casa Lúcia Mesquita, 45 anos, moradora de Diadema (ABC), sempre foi acostumada com fartura na hora de fazer compras, mas isso mudou. “Antes dessa crise, era carne bovina até três vezes por semana. Hoje, é no máximo duas vezes no mês. O que mais tenho comprado é frango e ovo”, diz.

Ela conta que, após o marido perder o emprego no fim de 2019, ele faz “bicos”, e a renda na casa da família de cinco pessoas —incluindo um neto recém-nascido— é de R$ 1.600 mensais.

Assim como a família de Lúcia, pesquisa do Procon-SP feita no início deste ano mostra que os lares têm sofrido com a queda na renda de cada trabalhador. O estudo, feito entre 8 de fevereiro e 15 de março com 5.007 pessoas, aponta que sete em cada dez viram a renda individual cair (69,76% do total).

Para garantir economia, Lúcia vai ao mercado comprar a mesma quantidade de arroz, feijão, açúcar, óleo e molho de tomate a cada 15 dias. “Faço uma feira na hora da xepa, porque é mais barato. Não tem mais aquela compra do mês”, conta.

Desempregada, a cuidadora de idosos Elisangela Lopes de Paiva, 42, moradora da Brasilândia (zona norte), passou a fazer faxinas. Para economizar no gás de cozinha, ela usa um fogão elétrico. Além disso, também diminuiu o consumo de carne. “Quando vou no açougue, peço certinho três filés de frango. Um para cada um”, afirma ela.

Dono de açougue em Santo André (ABC), Raul Lima de Almeida, conta que essa é uma das principais mudanças da clientela, que caiu pela metade. “Antes, o pessoal pedia o quilo. Agora, pedem em quantidade, como dois ou três filés."

O mesmo ocorre em comércio de miúdos na Lapa (zona oeste). “Sai muito fígado e mocotó, mas subiu o preço. Por isso tem gente que prefere comprar por unidade”, diz o balconista Lucas Batista.

Carne e frango têm alta de preços nos supermercados

Considerado uma alternativa a compra à carne vermelha, o frango também registrou alta de preços nos supermercados de São Paulo neste ano. De acordo com levantamento da Apas (Associação Paulista de Supermercados), o valor da ave acumula acréscimo de 21,42% entre janeiro e agosto de 2021.

Segundo o economista da Apas, Diego Pereira, a carne suína, que está em queda é uma boa opção. “No caso da carne bovina, houve alta da demanda e dos incrementos de produção, o que também atingiu o frango, e que chega na ponta”, diz.


O pesquisador da área de pecuária do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, Thiago Bernardino de Carvalho, analisa a alta para o produtor. “Estamos com oferta restrita da produção. Tem a questão hídrica, que no caso da pecuária de corte, diminui a produção de pasto. Tradicionalmente, também se usa milho, farelo de soja, bagaço de cana, que subiram.”

Linhas mais baratas são encontradas

O consumidor sente a alta de preços também nos demais alimentos. Algumas marcas já vêm disponibilizando linhas econômicas, entre elas, feijão com grãos quebrados, sem identificação de tipo, com valor menor do que o comum.

Segundo a nutricionista Camila Marin, consultada pelo Agora, o que muda é a integridade do grão, que pode ter mais farelos por estar mais quebrado. “O feijão pode ficar com um caldo mais escuro, o arroz pode ter um sabor diferente na preparação, mas não tem um risco para a saúde”, diz ela.

Fonte: Agora